Clarabóia é uma palavra feia. Faz imaginar uma mulher albina boiando no mar; uma caminhonete de bóias-frias suados num dia luminoso. Mesmo assim, quer significar algo bastante agradável: uma abertura no teto pela qual se pode observar o céu e o humor dos tempos sem evitar a preguiça (em vez de abrir a porta, a janela ou entrar no site do INPE e supor o exato inverso do que esses senhores afirmam).
Psicopompo é uma palavra feia. Faz imaginar uma psique pomposa; vaginas mentais pompoando, pompoando; cheerleaders psicóticas. Mesmo assim, quer significar algo bastante agradável: uma figura espiritual que faz a vez de guia das almas do reino dos homens para o reino dos deuses, um arquétipo que orienta a jornada da consciência na apreensão do universo inconsciente, como Hermes, um Puer Aeternus, um Ramana Maharishi, um psicanalista (piada), etc.
Enantiodromia é uma palavra ainda mais feia. Faz imaginar um câncer raro nalguma carne ou glândula quase desconhecida; o "dromia" provoca tremor em toda a palavra, é de dar medo. Mesmo assim, quer conceituar algo agradável: equivale ao princípio de estabilidade no mundo natural, onde qualquer intensidade vem a ser compensada por seu extremo oposto, produzindo equilíbrio. Não há só a razão, não há só o dia, não há só o talento; Faz-se o irracional, a noite e o Hans Donner.
Se a enantiodromia não é gerada naturalmente, ou se ela não é aparente ao nosso senso de oposição, procuramos com avidez um efeito de compensação semelhante, por amor à justiça. Prosegue que, se uma mulher foi premiada com gravíssima beleza, deduz-se imediatamente ser incapaz de ler A Montanha Mágica de Thomas Mann (a tese é velha e absurda, absurda).
Um psicopompo não passa de uma clarabóia. Ambos promovem o intercâmbio entre duas realidades, são sinônimos no plano das idéias. "Psicopompo" e "clarabóia" são também enantiodromias lexicais (assim como a própria palavra "enantiodromia"): são horríveis de se falar, mas falam bonito.
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