DROGA PARA COELHOS

Prova de que não sou moralista é que passei a escutar drogas. Não digo da violência sonora a qual tenho sido submetido sistematicamente na academia de musculação (há um preço caro para tonificar o chester), ou do pernicioso momento que antecede a luminescência das telas de cinema do Cinemark, quando me descubro envolto a uma atmosfera "bossa-lounge" da rádio da casa - e nesse instante a minha brasilidade, constrangida, pede proteção. Refiro-me ao I-Doser, emulador sonoro de drogas. Tentar se entorpecer mediante ruídos intermináveis e sem corroer o metabolismo não é um método particularmente subversivo, mas há certo coeficiente de malandragem em investigar drogas antes de dormir.

É perda de tempo ouvir «ópio» no software, assim como é perda de tempo o LSD, o anestésico, a cocaína, o crack, a heroína, a maconha, a morfina e o peyote. Mantive o meu embalo distante do fascinante «viagra», temi os seus efeitos na solidão. Aceite o produto dessa pesquisa e vá direto ao que há de melhor, o chamado «HandOfGod» - ele contagia com suas frequências ondulantes, um pipipi agudo e um zumzumzum imponente passeiam em ciclos comoventes. Deite-se, certifique-se da mais rigorosa escuridão em seu quarto, faça uso do seu headfone de 300 reais e surpreenda-se: como seria passar uma temporada no útero de um aspirador de pó avariado ou de um liquidificador ARNO dos anos 80. Há um momento especialmente crítico – a apoteose – em que é perfeitamente plausível de se esperar por uma explosão craniana, mas tudo não passa de uma cilada para Roger Rabbit.

A versão do I-DOSER disponível para download no site oficial é de descontentar, só oferece o aperitivo «álcool» – absolutamente frustrante para quem busca algo barra pesada, como sentir-se numa turbininha de ventilador. Tive de pedir favores a pessoas que há muito se despojaram de qualquer rigor ético, pertencentes ao submundo dos traficantes virtuais, para só então me abastecer de toda a lista psicotrópica, já mencionada. Como era de se esperar, os relatos dos sujeitos entorpecidos só poderiam ter com a verossimilhança se levássemos a sério a afetação daquele sujeito que fumou orégano pensando ser maconha. Contudo, ocorre que há certo benefício para práticas de relaxamento ou de meditação, o estranhamento causado pelos ruídos auxiliam em exercícios de imaginação ativa e em mudanças de estados de consciência - que diferem dos efeitos das tais drogas pretendidas (imagino, finalmente vale defender a minha sobriedade). Caso contrário, as vendas de I-Pod sairiam do sucesso para alcançar o Éden, e a Osesp ganharia o gosto da juventude ao tocar «ecstasy - allegro vivace». 

Nenhum comentário: