NATIMORTO

Imagine um deserto, e nele venta. Num ponto arbitrário da imensidão há uma cancela, simples, das de barrar carro em condomínio. Isto é tudo: o deserto, o vento a atravessar livremente a cancela, operante e inútil. O deserto é o ego, o vento é o id, a cancela é o superego. E os conceitos são freudianos, de picotar.
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Identificação não é criação, mas direcionamento. Sobre isso, jamais daria uma definição mais precisa que esta:

O ego está para o eu como o movido está para o motor, ou como o objeto está para o sujeito... O eu, como o inconsciente, é um a priori existente, do qual envolve o ego. É, por assim dizer, uma prefiguração inconsciente do ego. Não sou eu quem me crio o a mim mesmo, antes aconteço pra mim mesmo. Jung

O fim da passividade da consciência no processo de identificação coloca o sujeito no imediato vazio do ego, sobretudo diante dessa "mente a priori". Convenhamos, isto é interessante: não é a consciência quem dá origem à mente inconsciente, mas o exato oposto.

O conceito do ego, com sua capacidade de ser quebrado em muitos egos discretos, é tentador para a psicologia experimental, pois convida ao método de estudo “divide e impera”, que herdamos em nosso método científico dicotomizado tradicional... Se se contestar que o quadro da multidão de egos reflete a fragmentação do homem contemporâneo, eu replicaria que todo conceito de fragmentação pressupõe alguma unidade da qual ele representa uma fragmentação... Pois nem o ego, nem o inconsciente, nem o corpo são autônomos. Por sua própria natureza, a autonomia só se localiza no eu centralizado... Tanto lógica quanto psicologicamente precisamos colocar-nos atrás do sistema ego-id-superego e tentar compreender o “ser” de que estes são expressões. Rollo May - psicólogo experimental  


Um comentário:

José Luiz de Campos Castejón Branco disse...

Rollo May foi psicólogo existencial e não experimental, como você citou no texto. Faz toda a diferença! Abs.