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De repente a loucura do Cavaleiro tomou consciência de si mesma, e a seus próprios olhos se desfez em parvoíce. Mas será esta repentina sabedoria da loucura outra coisa que não "uma nova loucura que acaba de entrar-lhe pela cabeça?"
Foucault mirou ali no miolo da loucura: ela abarca o saber - não é a sua antítese, mas talvez a própria estrutura das possibilidades, o labirinto infinito e autofecundante de todos os estados do eu. Dizer 'nada sei' já é crer saber algo.
www.eltonpi.blogspot.com é o local de minha investida nos desenhos. A coisa vai de maneira sofrível neste início - falta de técnica e talento. Mas enfim, se você aguenta ler isso, rabisco é colírio.
A burguesia rasgou o véu comovente e sentimental do relacionamento familiar e o reduziu a uma relação puramente monetária. Karl Marx
Ou na Alemanha de 1828 Karlinhos, sempre que afim de afeto, era contribuinte de severos impostos pelos afagos de sua família, ou eis aí um exemplo preciso de como se estragar uma argumentação numa toada romântica. Vejam como pouco ou nada muda:
A burguesia rasgou o véu comovente e sentimental do relacionamento familiar e o reduziu a uma relação puramente monetária. Pedro Bial
Saibam que pesquisei o nome da unidade monetária alemã da década de 1820, e saibam que ela se chamava assim: Reichsthaler.
Há uma gíria somente joséense (nativa de São José dos Campos) que se chama castelar. Castela bem quem constrói altos castelos de areia: fantasia com desenvoltura ou oferece mentiras à sociedade. Não tente castelar em São Paulo, ou em Varginha, ou em Londrina, na expectativa de ser reconhecido. Ouvi falarem "sussa" em minha primeira mudança para São Paulo, ouvi dizerem que tal pessoa estava "sussa" enquanto eu deduzia corretamente que a pessoa que estava "sussa" estava muito bem sossegada, embora alguém, enquanto aquela pessoa estava "sussa", lhe atribuísse essa adaptação adjetiva um pouco constrangedora. O fato é que ninguém sabe ao certo como as gírias se propagam. A título de nada ou de rigorosa pesquisa científica comecei a lançar novas gírias no meu círculo comunitário, na esperança de uma possível verberação estadual. O que desejo pedir é o seguinte: caso alguém em Caçapava ou em Diadema venha a dizer que o desenrolar da economia mundial está em estado de choupana, façam-me saber.
Fortíssimo candidato ao maior emblema de minha geração, já que há cerca de um decênio qualquer sujeito é testemunha de sua façanha epidêmica - muito afim de ancas, dorsos, nucas e culotes - é a tatuagem carpe diem, micose de estatuto popular.
É com a maior tranquilidade que afirmo não se tratar da ressurgência do movimento árcade, por constatação simples. Sinto-me livre para também ignorar qual seja o sentido original do termo (pois essa é apenas uma manobra para conectar-me a outro tema), e considero exclusivamente a vertente moderna que se compreende no seguinte sinônimo, de lógica a=b, tal que: a="aproveitar o dia é aproveitar a vida!", b="viva o momento como se fosse o seu último!". Após evitar qualquer rememoração das propagandas da Colgate, devemos admitir que a proposta é vigorosa, pois força a noção de limite máximo (aproximação da sensação da morte) como medida de pressão pela torrente imediata da libido, ou seja, ampliar o ímpeto pelo meu bolinho primavera, sentir todo o sabor numa só mordida de prazer, porque o prazo de validade é pra meia-noite. Mas eu não posso aproveitar o momento como se fosse o último, e não o posso por dois fatores. Não há força suficientemente capaz de convencer-me de que estou para acabar - a sensação de continuidade é um recurso inalienável da saúde do sistema psicofisiológico - e, principalmente, a morte, ela mesma, nunca esteve excluída desse processo integral da psique. Quero dizer com isso que não é a morte a causadora da sensação de limite, nem tem ela com a "anti-vida". Não sente-se diretamente a morte, sente-se é o medo dela.
Recentemente entrei em contato com este trecho, que me sorri agora: Uma consciência não é por si mesma fragmentada. Ela sente de modo não fragmentado; um acordar diário dela é sensivelmente uma unidade. (...) a sensação do trovão é também a sensação do silêncio agora mesmo acabado; e seria difícil encontrar, na consciência concreta do homem, uma sensação tão limitada ao presente. William James
Vivemos não um determinado momento, um lampejo de percepção descontextualizada, mas a experiência presente da consciência é uma fluidez de ligação entre fenômenos que ocorreram e que estão próximos de ocorrer, participam de uma unidade. Em outras palavras, o eu é um complexo contínuo, e nem o maior dos fanfarrões poderia despojar-se do seu senso de correnteza e forçar uma sensação de interrupção de si. O homem não só acredita no amanhã como sente o amanhã.
(...) nós assistimos, a cada instante, a este prodígio da conexão das experiências, e ninguém sabe melhor do que nós como ele se dá, já que nós somos este laço de relações. Merleau-Ponty
Durante o sono, atravessamos diferentes fases de metabolismo cerebral e tombamos efetivamente, nos períodos de improdutividade onírica, na parcial ou completa inatividade da consciência (estágios de sono NREM, notadamente o 4º) – ou seja, uma morte. Não atinamos com esse intervalo de inexistência ao acordar, mas reativamos automaticamente a perpetuidade do familiar “eu mesmo”. Entregamo-nos à morte crua, diariamente, e confiamos infinitamente no sistema psicofisiológico pela ressurreição matinal. Jamais nos questionamos seriamente se acaso voltaremos a acordar, tampouco nos ressentimos de morrer antes de dormir. Enfrentamos a morte como parte natural e integrante do fluxo da vida - ela não está expurgada da nossa experiência e realização do self. No sono, é justamente por não existir o medo da morte que não lidamos psicologicamente com um fim: o fim é experiência do medo.
Mas, só poderia falar sobre o medo aquele que fosse capaz de ter com essa imagem sem temores - e este alguém não sou eu.
Caros, não é só o Michael Jackson quem se interessa por crianças selvagens.
Acabo de traduzir a autobiografia de Kaspar Hauser (alemão -> francês -> português), motivado pela ausência de uma publicação brasileira.
Imagine um deserto, e nele venta. Num ponto arbitrário da imensidão há uma cancela, simples, das de barrar carro em condomínio. Isto é tudo: o deserto, o vento a atravessar livremente a cancela, operante e inútil. O deserto é o ego, o vento é o id, a cancela é o superego. E os conceitos são freudianos, de picotar. .
Identificação não é criação, mas direcionamento. Sobre isso, jamais daria uma definição mais precisa que esta:
O ego está para o eu como o movido está para o motor, ou como o objeto está para o sujeito... O eu, como o inconsciente, é um a priori existente, do qual envolve o ego. É, por assim dizer, uma prefiguração inconsciente do ego. Não sou eu quem me crio o a mim mesmo, antes aconteço pra mim mesmo. Jung
O fim da passividade da consciência no processo de identificação coloca o sujeito no imediato vazio do ego, sobretudo diante dessa "mente a priori". Convenhamos, isto é interessante: não é a consciência quem dá origem à mente inconsciente, mas o exato oposto.
O conceito do ego, com sua capacidade de ser quebrado em muitos egos discretos, é tentador para a psicologia experimental, pois convida ao método de estudo “divide e impera”, que herdamos em nosso método científico dicotomizado tradicional... Se se contestar que o quadro da multidão de egos reflete a fragmentação do homem contemporâneo, eu replicaria que todo conceito de fragmentação pressupõe alguma unidade da qual ele representa uma fragmentação... Pois nem o ego, nem o inconsciente, nem o corpo são autônomos. Por sua própria natureza, a autonomia só se localiza no eu centralizado... Tanto lógica quanto psicologicamente precisamos colocar-nos atrás do sistema ego-id-superego e tentar compreender o “ser” de que estes são expressões. Rollo May - psicólogo experimental
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